quarta-feira, 2 de julho de 2008

ARTIGO - INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: A RIQUEZA DA CIÊNCIA

José Geraldo de Freitas Drumond*

A revolução científica que o século passado produziu e que foi determinante para a mudança de paradigma da economia mundial resultou na fusão indelével do trinômio ciência-tecnologia-inovação, que se tornou matriz de qualquer macro política de desenvolvimento social do presente século. Esta constatação é confirmada pelo interesse demonstrado pelos organismos internacionais em relação ao tema. Assim é que o Banco Mundial dedicou o seu relatório anual referente ao período 1998-1999, à questão do conhecimento e, em julho de 1999, a Unesco, órgão das Nações Unidas para a Educação e Cultura, realizou, em Budapeste, a Conferência Mundial de Ciência: “Ciência para o Século XXI: Um Novo Compromisso”.

É inegável que a preocupação destes organismos multilaterais se volte para a relação dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação e a sua aplicação no conjunto da sociedade, visando aprimorá-la por meio de uma justiça eqüitativa dos benefícios do progresso obtido por tais desenvolvimentos. A realidade, porém, determina que esses investimentos são cada vez mais vultosos em países desenvolvidos e levando-se em conta mais os interesses das empresas privadas, que atualmente são responsáveis por mais de 60% das pesquisas nos países ricos.

A inovação tecnológica passou a ser a “filha” mais atrativa da ciência moderna em razão da descoberta de novos produtos e processos inovadores e úteis à sociedade global. A ciência, a tecnologia e a inovação tecnológica tornaram-se, enfim, irmãs siamesas e a sua evolução depende de enormes investimentos de capitais pelas grandes corporações dos países ricos, o que determina a ampliação do fosso que separa as nações ricas (notadamente Estados Unidos, Europa e Japão) de nações pobres.

Neste contexto, a América Latina se destaca como uma região bastante distanciada do processo de assimilação dos benefícios do progresso científico-tecnológico-inovador em grande expansão nos países desenvolvidos. Dentre os fatores que colaboram para este distanciamento estão os baixos índices de investimentos públicos em ciência e tecnologia (C&T) ou em pesquisa e desenvolvimento (P&D), nas empresas privadas; a pouca participação do setor empresarial produtivo nas atividades de P&D e inovação - a maioria dessas atividades ainda se encontra concentrada nas universidades e institutos de pesquisa públicos; a formação de técnicos especialistas de alto nível concentrada nestas mesmas instituições e, questão também muito importante, o fato de, em sua maioria, as empresas, pressionadas pela competição de mercado, acabarem sendo adquiridas por subsidiárias de transnacionais ou, simplesmente, desaparecerem.

O Brasil, diferentemente da imensa maioria dos países sul-americanos, reúne condições favoráveis para o desenvolvimento de uma forte economia baseada no conhecimento, mercê de sua destacada liderança na produção científica mundial. Atualmente, essa produção corresponde a 2% do total da ciência internacional, o que coloca o país na dianteira de nações desenvolvidas como Suíça, Bélgica, Suécia e Finlândia. Também é válido citar sua dianteira regional, pois o Brasil é responsável por cerca da metade de toda produção científica na América do Sul, além de possuir um moderno parque industrial.

Mas, a diferença entre a produção científica e sua transformação em tecnologia e produtos inovadores no mercado ainda é considerável, tornando-se um gargalo para o país se tornar um competidor respeitado no mercado globalizado.

*Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig)
* Publicado originalmente no Jornal “Hoje em Dia”, de 09.06.2008

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